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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Caseiro do Piauí e camareira do Guiné

> Nascido no Piauí, Francenildo Costa era caseiro em Brasília. Em 2006, depois
> de confirmar que Antonio Palocci frequentava regularmente a mansão que
> fingia nem conhecer, teve o sigilo bancário estuprado a mando do ministro da
> Fazenda.
>
> Nascida na Guiné, Nafissatou Diallo mudou-se para Nova York em 1998 e é
> camareira do Sofitel há três anos. Domingo passado, enquanto arrumava o
> apartamento em que se hospedava Dominique Strauss-Kahn, sofreu um ataque
> violento do diretor do FMI e candidato à presidência da França, que tentou
> estuprá-la.
>
> Consumado o crime em Brasília, a direção da Caixa Econômica Federal absolveu
> liminarmente o culpado e acusou a vítima de ter-se beneficiado de um
> estranho depósito no valor de R$ 30 mil. Francenildo explicou que o dinheiro
> fora enviado pelo pai. Por duvidar da palavra do caseiro, a Polícia Federal
> resolveu interrogá-lo até admitir, horas mais tarde, que o que disse desde
> sempre era verdade.
>
> Consumado o crime em Nova York, a direção do hotel chamou a polícia, que
> ouviu o relato de Nafissatou. Confiantes na palavra da camareira, os agentes
> da lei descobriram o paradeiro do hóspede suspeito e conseguiram prendê-lo
> dois minutos antes da decolagem do avião que o levaria para Paris - e para a
> impunidade perpétua.
>
> Até depor na CPI dos Bingos, Francenildo, hoje com 28 anos, não sabia quem
> era o homem que vira várias vezes chegando de carro à “República de Ribeirão
> Preto”. Informado de que se tratava do ministro da Fazenda, esperou sem medo
> a hora de confirmar na Justiça o que dissera no Congresso. Nunca foi chamado
> para detalhar o que testemunhou. Na sessão do Supremo Tribunal Federal que
> examinou o caso, ele se ofereceu para falar. Os juízes se dispensaram de
> ouvi-lo. Decidiram que Palocci não mentiu e que as contundentes provas do
> estupro eram insuficientes para a aceitação da denúncia.
>
> Depois da captura de Strauss, a camareira foi levada à polícia para fazer o
> reconhecimento formal do agressor. Só então descobriu que o estuprador é uma
> celebridade internacional. A irmã que a acompanhava assustou-se. Nafissatou,
> muçulmana de 32 anos, disse que acreditava na Justiça americana. Sempre
> jurando que tudo não passara de sexo consensual, o acusado foi soterrado
> pela montanha de evidências e, depois de trocar o terno pelo uniforme de
> prisioneiro, recolhido a uma cela.
>
> Nesta quinta-feira, Francenildo completou cinco anos sem emprego fixo. Até
> agora, ninguém se atreveu a garantir a estabilidade financeira do caseiro
> que ousou contar um caso como o caso foi. No mesmo dia, Palocci completou
> cinco dias de silêncio: perdeu a voz no domingo, quando o país soube do
> milagre da multiplicação do patrimônio. Pela terceira vez em oito anos, está
> de volta ao noticiário político-policial.
>
> Enquanto se recupera do trauma, a camareira foi confortada por um comunicado
> da direção do hotel: “Estamos completamente satisfeitos com seu trabalho e
> seu comportamento”, diz um trecho. Estimuladas pelo exemplo da imigrante
> africana, outras mulheres confirmaram que a divindade do mundo financeiro é
> um reincidente impune. Nesta sexta-feira, depois de cinco noites num catre,
> Strauss pagou a fiança de 1 milhão de dólares para responder ao processo em
> prisão domiciliar. Até o julgamento, terá de usar uma tornozeleira
> eletrônica.
>
> Livre de complicações judiciais, Palocci elegeu-se deputado, caiu nas graças
> de Dilma Rousseff e há quatro meses, na chefia da Casa Civil, faz e desfaz
> como primeiro-ministro. Atropelado pela descoberta de que andou ganhando
> pilhas de dinheiro como traficante de influência, tenta manter o emprego.
> Talvez consiga: desde 2003, não existe pecado do lado de baixo do equador. O
> Brasil dos delinquentes cinco estrelas é um convite à reincidência.
>
> Enlaçado pelo braço da Justiça, Strauss renunciou à direção do FMI, sepultou
> o projeto presidencial e é forte candidato a uma longa temporada na gaiola.
> Descobriu tardiamente que, nos Estados Unidos, todos são iguais perante a
> lei. Não há diferenças entre o hóspede do apartamento de 3 mil dólares por
> dia e a imigrante africana incumbida de arrumá-lo.
>
> Altos Companheiros do PT, esse viveiro de gigolôs da miséria, recitam de
> meia em meia hora que o Grande Satã ianque é o retrato acabado do triunfo
> dos poderosos sobre os oprimidos. Lugar de pobre que sonha com o paraíso é o
> Brasil que Lula inventou. Colocados lado a lado, o caseiro do Piauí e a
> camareira da Guiné gritam o contrário.
>
> Se tentasse fazer lá o que faz aqui, Palocci não teria ido além do primeiro
> item do prontuário. Se escolhesse o País do Carnaval para fazer o que fez
> nos Estados Unidos, Strauss só se arriscaria a ser convidado para comandar o
> Banco Central. O azar de Francenildo foi não ter tentado a vida em Nova
> York. A sorte de Nassifatou foi ter escapado de viver num Brasil que absolve
> o criminoso reincidente e castiga quem comete o pecado da honestidade.
>

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